- "Mesmo em momentos de crise,
o corpo reage surpreendentemente quando começo a dançar".
Edson Claro.
Coragem é melhor palavra para sintetizar a trajetória de vida do bailarino, coreógrafo e professor de dança Edson Claro. Exigente e disciplinado, aposentado pelo Departamento de Artes da UFRN, Claro continua na ativa e produzindo dentro dos novos limites impostos pelo mal de Parkinson. Diagnosticada há cerca de oito anos, a grave doença tornou-se secundária diante do poder que a dança exerce sobre seu corpo: além de inspiradora, se transformou em fonte vital de energia.
Afastado dos palcos, mas não da dança, Edson Claro, 61, está em pleno momento de criação: divide seu tempo entre as sessões de terapia, a concepção do livro "Dançando com Parkinson" e os ensaios de duas coreografias inéditas - o duo "E a vida nos prepara para..." e o solo "Petrus". O livro terá oito capítulos (cinco já concluídos) e deverá ser lançado no primeiro semestre de 2012, já as coreografias estréiam no próximo dia 28 de setembro no Teatro Alberto Maranhão.
“Parei de me esconder", disse Edson com todas as letras durante entrevista concedida à TRIBUNA DO NORTE no salão de festas do edifício onde mora, em Areia Preta. Longe de estar acomodado, apesar de mais conformado e tranquilo, Claro resolveu compartilhar sua experiência e explicar como a dança vem transformando seu tratamento e melhorando sua qualidade de vida: "Estou vivendo um paradoxo com o Parkinson", afirma. "Mesmo em momentos de crise, o corpo reage de forma surpreendente quando começo a dançar. As pessoas ficam assustadas quando percebem a minimização dos sintomas", disse entusiasmado ao lembra-se da homenagem recebida durante o Dia Internacional da Dança no palco do TAM.
Cotidiano
É o próprio Edson quem trabalha, duas vezes por semana, no livro "Dançando com Parkinson", com uma técnica apelidada por ele de 'dedodatilografia'. Afeito ao desenvolvimento de conceitos que extrapolam determinada temática, ele adota abordagens transdisciplinar e multidisciplinar para construir seu texto: "Será um livro muito interessante para médicos, pacientes e família de pacientes, neurologistas, terapeutas e bailarinos. Sempre procuro trabalhar com essa mescla de conhecimentos", garante o professor.
Claro sentiu os primeiros sintomas do Parkinson em Portugal, aos 53 anos, quando estava concluindo sua tese de pós-Doutorado na Faculdade de Motricidade Humana. Toma um sem número de remédios - "melhor nem citar", brinca - e frequenta aulas de Pilates com a terapeuta Mariana; hidroterapia, com o professor Rodrigo; e fonoaudiologia com Suely Suerda. Seu tratamento também inclui acompanhamento pelo médico neurologista Mário Emílio Dourado; e a presença diária de Isabel Claro, que se tornou sua esposa após cinco anos de cuidados. "Faço questão de citar todos", frisa o professor, que veio parar em Natal no início da década de oitenta para descansar e acabou ficando.
“Era um professor muito requisitado em São Paulo, viajava bastante, mas quando conheci Natal sabia que aqui era o meu lugar", lembra. Hoje mora na beira mar com Isabel e duas cadelinhas: a poodle Tina Turner e a pinscher Mila.
Dança moderna
As novas coreografias criadas por Edson Claro serão interpretadas pelos bailarinos Margoth Lima e Juarez Moniz da Cia de Dança do Teatro Alberto Maranhão, braço contemporâneo da EDTAM. "São dois momentos do amor: adolescente e adulto", adianta o autor. A coreografia "Petrus", concedida em homenagem à amiga e também professora de dança Petrúcia Nóbrega, é um solo protagonizado por Margoth Lima, por quem Edson Claro derrama-se em elogios: "Estou tirando tudo que posso dela. Margoth vai ser uma estrela, na verdade ela já é e está descobrindo isso", garante o exigente professor”.
Edson trabalha a métrica, a contagem e outros detalhes teóricos das coreografias em seu apartamento, e os ensaios acontecem no mesmo salão onde concedeu entrevista. "Despachei, no bom sentido, uns cinco ou seis para o exterior com a mesma alegria e dedicação", emociona-se o professor, cuja trajetória se confunde com a trajetória de grupos como Balé Stagium e Cia Cisne Negro, de São Paulo; e grupos potiguares que fizeram história como o Acauã, Cia de Dança dos Meninos e Gaia Cia de Dança.
"Foi um grande desafio trabalhar com Edson Claro, pois ele trouxe novas técnicas da dança moderna para meu repertório contemporâneo", disse Margoth Lima. "A montagem fluiu muito bem não houve nenhuma dificuldade", finaliza a bailarina.
Para Wanie Rose, coordenadora da EDTAM e da Cia de Dança do TAM, "é uma honra tê-lo conosco. Edson Claro encanta e a dança acende ainda mais a luz dele", conclui.
Homenagem em forma de prêmio
O coreógrafo e produtor do grupo Gira Dança, Anderson Leão, ex-aluno de Claro, lembra bem do episódio no Teatro Alberto Maranhão em abril: "Foi uma grande felicidade quando Edson Claro anunciou que estava produzindo. Também nos pegou de surpresa ao pedir que todas pessoas, que estavam na plateia e que já tinham estudado ou trabalhado com ele, subissem ao palco. Reforçou seu pedido generalizado de 'coragem', e convidou para que sambássemos junto com ele. Foi uma noite emocionante, muito importante para quem trabalha com dança em Natal", lembra Leão.
Anderson participou da extinta Roda Vida Cia de Dança, projeto de extensão do Dearte/UFRN criado em 1995 pelos professores Edson Claro e Henrique Amoedo. "Foi uma das primeiras iniciativas aqui de Natal, ao lado de Antônio Soares do grupo Anjori, a trabalhar com bailarinos portadores de deficiências", contou.
A importância de Edson Claro para a formação do Gira Dança foi traduzida pelo grupo ao batizar um prêmio com o nome do professor: "Desde 2009, concedemos (grupo Gira Dança) o Prêmio Edson Claro de Dança aos destaques da dança potiguar. Escolhemos seu nome por ter sido sempre um grande incentivador", ressalta Anderson Leão. Em 2011, a entrega deverá acontecer em novembro durante a III Mostra Gira Dança. "É um evento voltado parta a valorização da dança contemporânea na capital potiguar", aponta.