Dez metros acima das águas barrentas do Rio Amazonas, no topo de um barranco em Itacoatiara, a 270 quilômetros de Manaus, um bando de caboclos com serras e talhadeiras equilibra-se sobre as ripas de um grande casco de madeira escura, batendo e cortando. O ritmo de trabalho é ditado pelo calor denso da Amazônia, que pesa sobre suas cabeças, e pelo nível do rio abaixo deles, que está mais alto do que deveria para a época do ano. Dentro de uns dois meses, a água voltará a subir, e quando ela retornar ao topo do morro, em abril de 2014, o barco tem de estar pronto para flutuar. A saúde de centenas de famílias ribeirinhas depende disso.
O casco de 40 toneladas, construído de madeira de ipê e itaúba, é o primeiro estágio do novo barco-hospital do projeto Doutores das Águas, criado em 2011 por um grupo de médicos e pescadores de São Paulo que, sensibilizados com as necessidades dos ribeirinhos que conheciam durante as viagens à floresta, resolveram fazer algo a respeito. "Quando a gente vai pescar, são eles que cuidam da gente; então estava na hora de a gente retribuir e começar a cuidar deles também", diz o médico Francisco Leão, de 61 anos, um dos idealizadores do projeto.
Fonte : Quando a saúde vem de barco - vida - saude - Estadão