Por decisão da Justiça, todos os prédios públicos - municipais, estaduais e federais - terão que facilitar o acesso a pessoas com necessidades especiais.
Quem não cumprir a decisão vai pagar multa de R$ 10 mil por dia.
Para falar sobre esse problema que atinge milhões de brasileiros,
Bom Dia Brasil preparou uma série de reportagens especiais.
A dança abriu um mundo de prazer para Viviane Macedo. Na força do remo, Fernando Fernandes leva o corpo a extremos de esforço, de segunda a sábado. Para André Melo de Souza, a liberdade está no azul das ondas do mar. André, Fernando, Viviane - eles demonstram como é possível vencer limitações e preconceitos.
“Quando eu entro em um baile de dança de salão para dançar, eu não sou uma deficiente. Eu sou mais uma pessoa que faz a dança de salão”, aponta a dançarina Viviane Macedo.
Uma pessoa que gosta de dançar, ou de remar, de surfar - por que não?
“Meu objetivo é totalmente voltado do esporte”, diz o atleta Fernando Fernandes.
Fernando Fernandes ficou paraplégico em julho do ano passado, quando sofreu um acidente de automóvel. Em 2002 ele participou do programa “Big Brother”. Já em cadeira de rodas, ele participou da última corrida de São Silvestre: “Peguei uma luva de bicicleta, coloquei esparadrapo na mão. Com dez minutos, minha mãe estava em carne viva. Meu objetivo era terminar a prova”.
Não enxergar ou não caminhar não são impedimentos para eles. Mas há limitações que ainda são muito difíceis de serem enfrentadas.
As estatísticas falam em 19 milhões de brasileiros com algum tipo de deficiência. Isso equivale a quase o dobro da população de Portugal. Apesar desses números, os nossos cidadãos que têm necessidades especiais muitas vezes parecem não existir. Veja, por exemplo, o que acontece em São Paulo, a maior cidade do país.
Quando Regina Lopes anda - ou tenta andar - pelas ruas da cidade, a bengala ajuda. Mesmo assim ela esbarra em todo tipo de dificuldade.
“A própria calçada: buracos, degraus”, conta a assistente social Regina Lopes.
Marcelo Pierro mora no alto de uma ladeira. Para chegar em casa, ele empurra 86 quilos do próprio peso, mais a cadeira de rodas. Faz esse percurso várias vezes ao dia: “Enfrento dificuldades com calçada, escadarias. As calçadas deixam a desejar nos bairros”.
A vantagem é que Marcelo é forte. Mas Tábata Penaci é frágil. Também mora no alto de uma ladeira, no bairro de Sacomã, na zona sul de São Paulo. Depende da mãe para chegar e sair de casa. Quando Tábata era criança, Dona Antonia trabalhou de merendeira para poder subir e descer as escadas da escola com a filha:
“Nas duas escolas que estudei, as pessoas tinham que ajudar”.
Tábata tem muitos sonhos, inclusive de construir uma família. Ela estuda psicologia. Mas para chegar até a faculdade: “Ainda falta para o cadeirante a facilidade de andar sozinho”.
O desrespeito piora a situação: deficiente com carro tem direito a lugar para estacionar. Mas nem sempre consegue.
“Eu passei por situação de ser ofendido dentro de um mercado porque eu disse para uma pessoa que ela estava estacionando em uma vaga reservada. Olhou para mim e disse assim: ‘Eu vou deixar o carro aqui mesmo’. Foi fazer compras. Nós somos cidadãos. Eu sou um cidadão. Eu pago imposto. Posso não pagar a passagem de ônibus por uma deferência qualquer do governo. Mas no resto eu pago imposto. Tenho o direito de ir e vir. Tenho o direito de poder e querer trabalhar”, conta o analista de sistemas Agostinho Sieckkowski.
Fonte:
Bom Dia BrasilEdição do dia 26/04/2010