São Paulo, 9h da manhã. Cruzamento da Av. Rebouças com a Av. Brasil.
O farol fecha. Vou até o meio da faixa de pedestre e subo a placa de “PARE”. Dá pra ver na cara dos motoristas que eles não estão entendendo nada. A placa gira e aparece “PENSE NO CLIMA”. Com um pouquinho de esforço, consigo ler os lábios dos motoristas:
- Ah, é do Greenpeace.
Enquanto isso, nossa guardinha vai entregando uma multa. Primeiro, recebe de volta uma cara de susto. Depois, um sorriso. [Sorriso?! Como assim?!]
É, um enorme sorriso ao receber a nossa multa. Surpreendentemente, a maioria dos motoristas multados por nós sorria.
O farol abre, aquela avalanche de carros, buzina, barulho. É o tempo certo de tomar uma água antes que o farol feche de novo.
Subo a placa PARE. Um motociclista levanta o capacete, saca o celular, tira uma foto. Viro a placa e ele dispara:
- Pensar no clima? É o Lula que tem que pensar no clima, moça, acabar com o desmatamento, diminuir os carros na rua…
- Verdade, tem coisa que é só o Lula que pode fazer. Mas tem coisa que a gente mesmo pode fazer, não tem? E a gente também tem um papel importante de lembrar o Lula todo dia de pensar no clima, né?
- Tem razão, moça. Parabéns pelo trabalho de vocês. Dá um folheto?
11h00
O farol fecha. Vou distribuir os folhetos de carro em carro – para aqueles que não estão sendo multados. É quase impossível convencer os motoristas a abrirem seus vidros numa cidade como São Paulo. Mas, quase sempre, um sorriso e o “SALVAR O PLANETA – É AGORA OU AGORA” estampado na minha camiseta convence.
Paro num carro com os vidros escuros, peço pra abaixar o vidro. Aparece um senhor de seus 60 anos:
- Um minutinho, moça. To pensando no clima, por favor, deixa eu me concentrar.
Caio na risada; é bom ver que ainda há bom humor no trânsito caótico da cidade. Melhor ainda ver que ele, além de bem-humorado é preocupado com o meio ambiente: já sabia que dia 22/set é Dia Mundial sem Carro e já tinha planejado deixar o carro em casa.
13h00
O farol abre, vejo um guarda – de verdade – vindo na nossa direção.
- Oi, bom dia. Posso ganhar uma multa dessas?
[oi?! O guarda de verdade quer a nossa multa de mentira?! Faço cara de espanto, mas entrego uma das nossas multas.]
- Passaram um rádio pra gente ontem, avisando que vocês estavam fazendo esse trabalho. A roupa ficou parecida mesmo, hein?! Legal que vocês não estão atrapalhando o trânsito. E parabéns pela iniciativa. Bom trabalho.
Ele não foi o único. Vários carros e guardas do órgão de trânsito passaram por nós durante o dia, tirando fotos, buzinando, acenando…
15h00
O farol fecha. Nossa guardinha mal sai da calçada em direção a um carro e escutamos alguém gritando pelo vidro:
- Me multa, me multa! Moça, eu sei que eu to errada, to sozinha no carro! Mas dia 22 eu vou deixar o carro em casa, pode deixar.
Fazer o que?! Ela pediu, temos que multar…
Farol abre, farol fecha de novo. Passa um ciclista:
- Aeee, Greenpeace! Dia sem Carro!
17h00
O farol fecha. Vou até o meio da faixa de pedestre e subo a placa de “PARE”. Dá pra ver na cara dos motoristas que eles não estão entendendo nada. A placa gira e aparece “PENSE NO CLIMA”. Com um pouquinho de esforço, consigo ler os lábios dos motoristas:
- Ah, é do Greenpeace.
São tantos, tantos carros na rua que eu podia passar uma semana fazendo a mesma coisa e ia continuar vendo essa mesma cena a cada farol. Carro que ainda não tinha passado por ali. Carro que tinha passado no outro sentido. Carro que tinha passado pela rua paralela. Carro, carro, carro. É carro que não acaba mais…
Quer fazer alguma coisa? É só pensar em outros meios de se locomover.
Parece difícil? É um pouco – porque nos acostumamos mal. Mas não é impossível.
Que tal começar na próxima terça-feira, dia 22?
Fonte : Blog do Greenpeace