Seja bem vindo ao nosso blog esperamos contribuir para esclarecer duvidas e minimizar os aspectos stressantes da Doença de Parkinson. Nossa meta é agregar valores e integrar a família parkinsoniana do Brasil criando um grupo (chat) de amigos com problemas afins.Sabemos que a doença ainda não tem cura, mas a troca de informações ajuda no combate ao Mr. Parkinson e seguimos firme para uma Qualidade de Vida.
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sábado, 21 de março de 2009
COMPORTAMENTO: “LIVRE-SE DAS CULPAS E NÃO SEJA SEU PIOR INIMIGO!”
[Devo esclarecer que as opiniões colocadas aqui são de minha total responsabilidade].
Ao longo da vida, reunimos muitas experiências fartas de valores afetivos, hábitos, algumas crenças limitantes e mitos que deixam marcas em nossa mente, que busca a todo instante, em antigos conceitos, soluções para tratar com situações totalmente novas e inesperadas. Reconheço que cada pessoa é única, e que cada uma pode passar por diferentes situações conflitantes, mas entendo ainda que muitas vezes carregamos uma carga muito pesada de “culpa” que não nos pertencem.
Falo de regras e/ou dogmas impostos pela sociedade, ou por uma comunidade, que não raramente nos coloca numa posição inferior e inquestionavelmente inaceitável, atropelando o bom senso e nossos valores próprios.
Falo ainda mais especificamente de algumas experiências próprias. Algumas pessoas, depois que tomaram conhecimento de que sou portadora de Parkinson, me trataram com indiferença, descaso, desprezo, outras ainda foram omissas.
Logo no início do meu convívio com o Sr. Parkinson, sentia-me muito insegura, confusa, sem informação e infelizmente não tive apoio em meu lar para seguir em frente, com o respeito que me era devido. Deixei-me afetar pelo preconceito, pelo medo, pela indiferença.
Diante de uma situação de risco o que devemos fazer? Quando nos atiram pedras devemos nos desviar delas.
Incontáveis vezes ouvi pessoas dizerem: você “não pode”, “não consegue”, “não vai” porque tem Parkinson. Por algum tempo acreditei nisso.
Depois de um casamento desfeito, tendo vivido os últimos 20 anos como dona de casa (agora sem hífen), aos 46 anos, voltei a estudar, fui trabalhar para custear minha vida e meu tratamento e aprendi a desviar das pedras atiradas.
De quem é a culpa de eu, meu vizinho ou você sermos portadores de Parkinson? De ninguém! Vejo pessoas que se culpam pela doença, pensam que fizeram algo errado por isso ficaram doentes. Culpa é como se saíssemos para passear no parque carregando um saco de areia de 50 quilos nas costas, ou seja, é tão inútil como “água em pó”.
O tempo que perdi buscando culpados ou estendendo a culpa pelas minhas atitudes foi inútil, passou e não será recuperado. O que fazer com meu passado? Devo deixá-lo lá onde ficou: quieto no passado. Não tenho feito planos a longo prazo, no máximo com expectativas de um a dois anos, (excetuando-se uma série de cursos que planejei fazer em 4 anos). Tenho vivido e partilhado mais minhas alegrias com os que eu amo, dia após dia. Eu vivo um dia de cada vez, mas vivo com vontade de viver, com intensidade!
Como lidar com o presente e situações novas valendo-se de conceitos antigos? Eu realmente não sei responder, pois eu mesma rasguei e queimei algumas teorias que aprendi ao longo da vida. O mundo muda, evolui. Nós também somos capazes de mudar e evoluir.
Fui educada para constituir família, manter e cuidar para que todos estiverem sempre bem vestidos, bem alimentados, unidos e felizes... Até que um dia isso tudo desmoronou. Aceitar a separação, a indiferença, a falta de apoio foi um momento doloroso e difícil. E eu costumo dizer que o tempo não cura a dor, a dor está lá e ficará para sempre. O tempo nada cura! Mas com o tempo podemos nos tornar muito maiores e mais fortes que a dor e superá-la. Só depende do nosso real desejo superar a dor. A dor não diminui, nós é que nos tornamos maiores, mais fortes, se e somente se estivermos determinados a isso.
Se permitirmos que nos tratem com vítimas, então seremos vítimas. Se nos sentirmos derrotados, seremos derrotados. Nossas conquistas se iniciam a partir da nossa plena convicção de sermos vencedores.
Ser vencedor, na minha opinião, não é acumular bens, carros caros, poder financeiro. A sociedade consumista é cruel e impõe um modelo distorcido de sucesso, evidenciando o êxito como conquista de bens materiais. Mas vitória legítima está em tornar-se uma pessoa melhor a cada dia, em fazer o bem por convicção. Vivendo pelo melhor de nós, é evidente que teremos uma vida mais produtiva.
Superei a depressão, as ausências e descobri que “eu posso, eu vou e eu consigo”, porque eu realmente desejo. Aprendo todo dia um pouco mais como é conviver com o Sr. Parkinson. Fiz um pacto com a vida e não vou sabotar a minha felicidade.
Há doenças como câncer, artrite, reumatismo, tantas e tantas outras. Nós portadores de Parkinson necessitamos de cuidados como também necessitam os portadores de outras doenças. Pessoas saudáveis precisam de cuidados com alimentação, precisam praticar alguma atividade física, precisam de cuidados médicos periódicos, para que possam manter essa condição. Penso que em nada somos diferentes de outras pessoas.
A informação é uma ferramenta poderosa, que nos permite participar de maneira muito mais eficiente na escolha dos tratamentos e compreender como nos posicionar diante dos efeitos inesperados, por esta razão eu peço aos familiares, amigos, cuidadores e pessoas próximas dos portadores de DP que conversem com o médico, também busquem informações para entender melhor as necessidades, as dificuldades enfrentadas. Pelo fato desta doença ser intermitente, ou seja, variável entre intervalos bons e outros ruins, o humor do portador de DP também é inconstante. Há pessoas que por não terem informação sobre os estágios da doença, as dificuldades e variações de cada caso, imaginam muitas vezes que o portador de DP simula estar doente. Há parkinsonianos que inicialmente não apresentam tremores, mas possuem dificuldades de locomoção ou equilíbrio, alguns de um só lado do corpo, outros dos dois lados, alguns sentem maior dificuldade nos membros inferiores, outros nos membros superiores. É muito importante o apoio da família neste momento em que tratamos com o inesperado e estamos nos readaptando aos imprevistos diários.
Hoje eu percebo que a necessidade de conviver com o Sr. Parkinson não foi a maior barreira que enfrentei, mas foram sim o desamor e a omissão.
Nós todos, saudáveis ou não, (uns mais, outros menos), necessitamos sim de atenção, carinho, amor, respeito, dignidade, hábitos saudáveis, cuidados com a saúde.
Por isso enfatizo a necessidade de buscar informação, não desistir do tratamento médico, tomar os medicamentos de modo correto, nunca usar remédios por conta própria sem a devida prescrição médica, fazer exercícios físicos, ter hábitos saudáveis com higiene pessoal e alimentação, não se afastar dos amigos, tentar manter o convívio com a família, e nunca, jamais, em tempo algum desamar a si próprio.
Eu peço com insistência: - NÃO SABOTE SUA FELICIDADE! LIVRE-SE DAS CULPAS E NÃO SEJA SEU PIOR INIMIGO.
Volto a afirmar: - NOSSA ALMA NÃO TEM PARKINSON!
Deixo aqui um enorme abraço cheio de esperanças pela descoberta do neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis.
E a vida tem urgência de seguir adiante...
Simplesmente *TT.
Conversa com o neurocientista Iván Izquierdo
Por Tatiana Bandeira
Revista Vida Simples - 02/2009
Para o neurocientista Iván Izquierdo, há ruídos demais no mundo. E, para saber diferenciar no meio da balbúrdia o que faz diferença, só usando o que se aprende desde pequeno: o bom senso. Ou cantar como Balu, o urso que adora aproveitar a vida no filme Mogli: “Eu digo o necessário, somente o necessário. Por isso que nessa vida eu vivo em paz”. Aos 71 anos, o coordenador do Centro de Pesquisas da Memória da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, e hoje pesquisando “basicamente o que faz com que as memórias persistam por mais tempo”, como diz, Izquierdo defende a necessidade de fazer escolhas – para escapar de tanto ruído. E sabe do que fala. Ele é autor do livro Silêncio, por Favor, no qual analisa a sociedade contemporânea e os ruídos – os mais variados possíveis – que atrapalham a qualidade de vida. O médico e pesquisador argentino, radicado no Brasil desde 1973, chama a atenção pela produção nada silenciosa: 630 artigos publicados, a maioria sobre a memória, e 18 livros. O mérito consiste em mesclar ciência e humanismo em boa parte de suas obras. Em uma sala coberta de publicações, ele conta, após desligar um rádio, que usa há dez anos aparelho auditivo. “Mas só em um ouvido”, faz questão de reforçar.
Há ruídos demais no mundo, o senhor admite. Mas de onde eles vêm?
Vêm do excesso de informações com que somos bombardeados, o tempo todo, pelas formas mais diversas, e isso atordoa. Os ruídos não são só auditivos mas também visuais, linguísticos e sensoriais. São os sons indesejáveis, que gostaríamos de ignorar para poder atender aos sinais que nos são importantes. No livro que escrevi, cito que no meio da balbúrdia generalizada queremos ouvir a voz que nos chama. A voz é o sinal. Tome-se como exemplo uma entrevista em que os repórteres se juntam todos a disparar perguntas. Quem vai responder, das inúmeras perguntas feitas, só vai entender uma. O restante atrapalha. Quanto ao excesso de informação, no jornal que se lê diariamente, ocorre o mesmo. É preciso selecionar os sinais em meio ao ruído. Quem lê pede “Silêncio, por favor!”. Se quero extrair informações sobre um filme num site, tenho dados em torno sobre todo o restante do mundo. As que realmente podem ser de interesse são poucas. Isso é ruído e é preciso saber escolher, tirar a mosca da sopa. Afinal, não queremos comer a mosca!
Nascemos fazendo barulho, chorando. O ruído, então, não é parte da dita condição humana?
Não, esse ruído é diferente, é informação. Não é melodia e, como sorriso, é uma forma de expressão. É como avisar alguém que está na rua e vai cair: por vezes, emitimos ruídos considerados feios, gritos, mas é uma maneira que se tem no momento de comunicar.
Como os ruídos e o excesso de informação podem afetar a memória e as emoções?
A memória, o cérebro, querem gravar informações. O que a gente quer é irrelevante. Se o silêncio compete com o ruído, atrapalha diretamente a formação da memória porque o cérebro “escolhe”, por mecanismos diferentes de memória, a forma desse processamento. Atrapalham a memorização, a percepção e a sensibilidade, nas suas mais variadas combinações, inclusive prejudicando as memórias guardadas anteriormente. Para dar um passo, preciso me lembrar do passo anterior para que possa ter sentido de direção. E continuar, seguir a vida. Na saúde mental, existe uma situação patológica que é a esquizofrenia, em que não se consegue identificar os sinais em meio aos ruídos – percebe-se tudo como importante. Mas, mediante tratamento, como no caso do cientista John Nash, que teve a vida retratada no filme Uma Mente Brilhante, é possível melhorar, levar a vida – inclusive ganhar um Nobel, como ocorreu com ele. Tratando-se de emoções, podem gerar ansiedade e, se ela for demasiada, causar desespero. Com tratamentos apropriados, entretanto, é possível se ver livre do “ruído que vem de dentro”, causado pela ansiedade.
Como se prevenir?
O cérebro, por meio de um sistema chamado “memória de trabalho”, quando não consegue fazê-lo, registra uma espécie de intoxicação e aí entra um processo de confusão. A principal forma de prevenção é se manter atento, aprender a discriminar informação de ruído.
Em que medida as pausas – por exemplo, parar para tomar um café durante o trabalho – são importantes para manter a mente mais tranquila?
Sempre fazemos pausas. É necessário para a percepção correta do que vivenciamos. É como o ponto final nos textos escritos, que usamos para, depois, seguir, passar para outra linha. A vida está cheia disso, caso contrário não conseguiríamos discriminar as memórias porque a capacidade de armazená-las é saturável.
A ignorância é barulhenta?
É muito barulhenta. Há um tipo de desinformação que tem sua origem no desejo de simplificar, reduzir tudo a uma frase de efeito. De tanto interpretar besteiras, às vezes por descaso, às vezes pelo hábito de não prestar atenção, as pessoas se confundem em meio à ignorância emitida até por gente que não é burra, por pessoas que sabem ler e escrever. Temos certos escritores por aí que se enquadram nessa classificação. Os demagogos e os políticos, com suas falsas promessas não cumpridas, que geram desinformação, são outros.
Como reconhecer em meio à balbúrdia, outro termo usado pelo senhor, quem e o quê, no meio dos ruídos, vale a pena?
Utilizando, novamente o bom senso. Muitos fatores, é verdade, influenciam. Mas o que importa é buscarmos afinidade nos relacionamentos, procurar ler, ouvir as músicas de que se gosta, refletir sobre o que é importante ou pelo menos útil. E sorte.
Há o risco de incorporar os ruídos definitivamente ao cotidiano, deixando de percebê-los?
Apareceu, junto com o ruído, o hábito do ruído, o costume de não saber mais ouvir em silêncio. É preciso prestar atenção na volta. É uma questão de educação coletiva. A imprensa desempenha um papel-chave, noticiando o necessário.
Quando o grito é necessário?
Grita-se para que se possa ser ouvido no meio dos ruídos, como numa festa, ou para se defender, se proteger e proteger os demais. Se fico sabendo de uma roubalheira no governo, por exemplo, posso fazer algo, gritar para defender o bolso do contribuinte.
As pessoas sabem conviver com o silêncio?
Não conheço ninguém. Os monges, talvez. Não sei.
Livros
Silêncio, por Favor, Iván Izquierdo, Unisinos
silêncio, por favor
Os ruídos atrapalham nossa qualidade de vida, acredita o neurocientista Iván Izquierdo. Mais: a profusão de estímulos pode afetar nossas memórias e emoções
Por Tatiana Bandeira
Revista Vida Simples - 02/2009
Para o neurocientista Iván Izquierdo, há ruídos demais no mundo. E, para saber diferenciar no meio da balbúrdia o que faz diferença, só usando o que se aprende desde pequeno: o bom senso. Ou cantar como Balu, o urso que adora aproveitar a vida no filme Mogli: “Eu digo o necessário, somente o necessário. Por isso que nessa vida eu vivo em paz”. Aos 71 anos, o coordenador do Centro de Pesquisas da Memória da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, e hoje pesquisando “basicamente o que faz com que as memórias persistam por mais tempo”, como diz, Izquierdo defende a necessidade de fazer escolhas – para escapar de tanto ruído. E sabe do que fala. Ele é autor do livro Silêncio, por Favor, no qual analisa a sociedade contemporânea e os ruídos – os mais variados possíveis – que atrapalham a qualidade de vida. O médico e pesquisador argentino, radicado no Brasil desde 1973, chama a atenção pela produção nada silenciosa: 630 artigos publicados, a maioria sobre a memória, e 18 livros. O mérito consiste em mesclar ciência e humanismo em boa parte de suas obras. Em uma sala coberta de publicações, ele conta, após desligar um rádio, que usa há dez anos aparelho auditivo. “Mas só em um ouvido”, faz questão de reforçar.
Há ruídos demais no mundo, o senhor admite. Mas de onde eles vêm?
Vêm do excesso de informações com que somos bombardeados, o tempo todo, pelas formas mais diversas, e isso atordoa. Os ruídos não são só auditivos mas também visuais, linguísticos e sensoriais. São os sons indesejáveis, que gostaríamos de ignorar para poder atender aos sinais que nos são importantes. No livro que escrevi, cito que no meio da balbúrdia generalizada queremos ouvir a voz que nos chama. A voz é o sinal. Tome-se como exemplo uma entrevista em que os repórteres se juntam todos a disparar perguntas. Quem vai responder, das inúmeras perguntas feitas, só vai entender uma. O restante atrapalha. Quanto ao excesso de informação, no jornal que se lê diariamente, ocorre o mesmo. É preciso selecionar os sinais em meio ao ruído. Quem lê pede “Silêncio, por favor!”. Se quero extrair informações sobre um filme num site, tenho dados em torno sobre todo o restante do mundo. As que realmente podem ser de interesse são poucas. Isso é ruído e é preciso saber escolher, tirar a mosca da sopa. Afinal, não queremos comer a mosca!
Nascemos fazendo barulho, chorando. O ruído, então, não é parte da dita condição humana?
Não, esse ruído é diferente, é informação. Não é melodia e, como sorriso, é uma forma de expressão. É como avisar alguém que está na rua e vai cair: por vezes, emitimos ruídos considerados feios, gritos, mas é uma maneira que se tem no momento de comunicar.
Como os ruídos e o excesso de informação podem afetar a memória e as emoções?
A memória, o cérebro, querem gravar informações. O que a gente quer é irrelevante. Se o silêncio compete com o ruído, atrapalha diretamente a formação da memória porque o cérebro “escolhe”, por mecanismos diferentes de memória, a forma desse processamento. Atrapalham a memorização, a percepção e a sensibilidade, nas suas mais variadas combinações, inclusive prejudicando as memórias guardadas anteriormente. Para dar um passo, preciso me lembrar do passo anterior para que possa ter sentido de direção. E continuar, seguir a vida. Na saúde mental, existe uma situação patológica que é a esquizofrenia, em que não se consegue identificar os sinais em meio aos ruídos – percebe-se tudo como importante. Mas, mediante tratamento, como no caso do cientista John Nash, que teve a vida retratada no filme Uma Mente Brilhante, é possível melhorar, levar a vida – inclusive ganhar um Nobel, como ocorreu com ele. Tratando-se de emoções, podem gerar ansiedade e, se ela for demasiada, causar desespero. Com tratamentos apropriados, entretanto, é possível se ver livre do “ruído que vem de dentro”, causado pela ansiedade.
Como se prevenir?
O cérebro, por meio de um sistema chamado “memória de trabalho”, quando não consegue fazê-lo, registra uma espécie de intoxicação e aí entra um processo de confusão. A principal forma de prevenção é se manter atento, aprender a discriminar informação de ruído.
Em que medida as pausas – por exemplo, parar para tomar um café durante o trabalho – são importantes para manter a mente mais tranquila?
Sempre fazemos pausas. É necessário para a percepção correta do que vivenciamos. É como o ponto final nos textos escritos, que usamos para, depois, seguir, passar para outra linha. A vida está cheia disso, caso contrário não conseguiríamos discriminar as memórias porque a capacidade de armazená-las é saturável.
A ignorância é barulhenta?
É muito barulhenta. Há um tipo de desinformação que tem sua origem no desejo de simplificar, reduzir tudo a uma frase de efeito. De tanto interpretar besteiras, às vezes por descaso, às vezes pelo hábito de não prestar atenção, as pessoas se confundem em meio à ignorância emitida até por gente que não é burra, por pessoas que sabem ler e escrever. Temos certos escritores por aí que se enquadram nessa classificação. Os demagogos e os políticos, com suas falsas promessas não cumpridas, que geram desinformação, são outros.
Como reconhecer em meio à balbúrdia, outro termo usado pelo senhor, quem e o quê, no meio dos ruídos, vale a pena?
Utilizando, novamente o bom senso. Muitos fatores, é verdade, influenciam. Mas o que importa é buscarmos afinidade nos relacionamentos, procurar ler, ouvir as músicas de que se gosta, refletir sobre o que é importante ou pelo menos útil. E sorte.
Há o risco de incorporar os ruídos definitivamente ao cotidiano, deixando de percebê-los?
Apareceu, junto com o ruído, o hábito do ruído, o costume de não saber mais ouvir em silêncio. É preciso prestar atenção na volta. É uma questão de educação coletiva. A imprensa desempenha um papel-chave, noticiando o necessário.
Quando o grito é necessário?
Grita-se para que se possa ser ouvido no meio dos ruídos, como numa festa, ou para se defender, se proteger e proteger os demais. Se fico sabendo de uma roubalheira no governo, por exemplo, posso fazer algo, gritar para defender o bolso do contribuinte.
As pessoas sabem conviver com o silêncio?
Não conheço ninguém. Os monges, talvez. Não sei.
Livros
Silêncio, por Favor, Iván Izquierdo, Unisinos
Fonte : Planeta Sustentável