VIAGEM AO CENTRO DE COMANDO DE UM DOENTE COM PARKINSON
O Destak acompanhou uma cirurgia que permitirá devolver a normalidade à vida de um doente, marcada pela diferença.
Carla Marina Mendes | cmendes@destak.pt
«Quero que conte até dez para ouvir a sua voz.»
O pedido do neurologista, firme, contrasta com a debilidade vocal da doente, um dos sintomas da doença de Parkinson, com que vive há dez anos. Deitada na mesa de operações, mantém os olhos fechados, quase que indiferente aos movimentos de médicos e enfermeiras que, com a ajuda de um conjunto de eléctrodos, lhe invadiram o cérebro em busca das lesões que lhe limitam a vida.
«Não adormeça.» Mário Rosa, um dos neurologistas de serviço no bloco, emprestado do Hospital Santa Maria, volta a pedir, em jeito de ordem. «É muito importante que a doente se mantenha acordada nesta fase da cirurgia», explica ao Destak. A anestesia, local apenas, evita o sono e impede as dores, poucas, segundo os médicos, já que «nem o osso ou o cérebro doem».
Mais de 150 doentes com Parkinson já foram submetidos, em Portugal, a uma cirurgia que lhes garante a redução dos sintomas mais severos, como os tremores, rigidez ou lentidão nos movimentos.
«Trata-se de uma operação minimamente invasiva», explica António Gonçalves Ferreira, chefe da equipa. «Aquilo que se faz é um buraco, que não chega a meio centímetro, de cada lado do cérebro».
Por ele passam os cinco eléctrodos que vão descendo em direcção à lesão, fornecendo aos médicos a actividade cerebral, registada num computador.
Cabe aos médicos a tarefa de identificar a zona lesionada. Depois disso, retiram-se os eléctrodos, mantendo-se um deles que, posteriormente, será ligado a uma espécie de pacemaker, implantado por debaixo da pele, na zona da clavícula. É o pequeno aparelho que vai gerar um sinal eléctrico, estimulando a região cerebral e reduzindo a intensidade dos sintomas em 70%.
Um cérebro barulhento
Pouco depois das 11h30, cerca de duas horas após o início de uma cirurgia de nove horas, começam os registos. À frente do monitor, os neurologistas interpretam a informação fornecida pelos eléctrodos.
Por vezes, a imagem dá lugar ao som e, para além das vozes dos médicos, o silêncio da sala é quebrado por um barulho semelhante ao da 'chuva', o mesmo é dizer, estática da televisão.
A tarefa dos médicos vai apenas a meio. O trabalho repete-se, mas do lado oposto do cérebro. Depois, há ainda que implantar o aparelho. A alta é dada três a cinco dias após a maratona cirúrgica.
A cirurgia - Estimulação cerebral profunda, que reduz os sintomas.
Candidatos - Doentes que sofrem há mais anos.
Onde - Em Santa Maria, nos Capuchos em Lisboa, Sto. António e S. João, ambos no Porto
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