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sábado, 18 de fevereiro de 2012

BOATARDE, MAS BOA TARDE MESMO!!!




   
             Por que ninguém é feliz para sempre?


- Vó?
- Oi?

-  O que acontece depois do "Felizes para Sempre?"
A avó até se ajeitou na cadeira. Já sabia o que acontecia quando aquelas perguntas começavam.
- Como é que você falou, meu bem?

- O que acontece depois do "Felizes para Sempre" das historinhas. A princesa encontra o príncipe e vivem felizes-para-sempre...,

termina sempre assim...
Por que eu não vejo ninguém ser feliz para sempre, então?
Ai, ai, ai, pensou a avó.

- Sabe, minha querida, tem uma tribo antiga de índios, lá no
Novo México, que não acredita na passagem do tempo.

Fez menção de perguntar o que aquilo tinha a ver com a sua pergunta, mas a avó colocou a mão na sua boca, como se dissesse, espera.
- Esses índios acreditam que existem apenas dois mundos:
O mundo das coisas visíveis, e o mundo das coisas invisíveis.

- No mundo das coisas visíveis, encontramos o que construímos: a casa, o carro, esse tricô aqui que você sempre interrompe... - E no mundo das coisas invisíveis?

- No mundo das coisas invisíveis, encontramos tudo o que não transformamos em realidade; os sonhos, as idéias, as dificuldades, tudo o que ainda está lá, para ser realizado, e que a gente  sempre deixa para depois...,

- Depois eu vou estudar, depois eu vou tentar, depois eu vou fazer meu sonho se tornar realidade... as pessoas sempre esperam pelo futuro, a época em que serão "felizes para sempre"...

- E os índios?

- Bem, eles são mais espertos e mais avançados do que nós... como eles não acreditam no tempo, então não acreditam  também no futuro, e se não acreditam no futuro, não passam  a vida inteira esperando por ele.

A menina acendeu aquele vasto sorriso, que usava
sempre que as historinhas da vovó clareavam as suas dúvidas.

- O que eles fazem então?
- Acho que eles tratam de serem felizes todo dia.
- Mas eles não tem coisas chatas para fazer?
- Que coisas chatas?

- Essas que a gente faz todo dia: arrumar a cama, fazer
lição de casa, arrumar a casa, comer verduras...
- Lógico que fazem.
- Como é que podem ir para escola se não acreditam no futuro? Meu pai sempre fala que trabalha e fica mal humorado
para que a família tenha "um futuro melhor" ...
que temos que estudar para termos "um futuro melhor"...

- E o futuro fica mesmo melhor?
- Não sei, ele não chegou ainda...

Riram gostosamente.

- Sabe, querida, o que esses índios acham, é que a felicidade,
o "felizes para sempre" só existe nessa passagem,
das coisas irrealizadas para as coisas realizadas.

Esse é um modelo mais bacana de felicidade:
é como se a felicidade fosse um quebra-cabeças que
a gente monta todo dia... só que é um quebra cabeças diferente.

- Como ele é?

- Ele é feito todo dia, com coisas que a gente consegue realizar... as peças são invisíveis, e gente deve procurar por cada uma delas até encontrar.

Aí a gente traz as coisas do mundo invisível para
o mundo realizado. É como uma oficina.
Uma Oficina de Felicidade.

Finalmente, a pergunta mais difícil:
- Você é feliz, vovó? Sorriu, suavemente.
- Sou, minha querida. - Mesmo sendo sozinha?

- Mas eu não sou sozinha. Eu tenho você, sua mãe, e uma porção de gente no meu coração, querida. Nunca estou sozinha. - Quando eu ficar velhinha, eu vou ser feliz, então?

- Não, meu bem. Quando você ficar criança é que vai ser feliz.
- Mas eu já sou criança.

- Então, não se esqueça de ser criança quando você crescer, tá bom? - Combinado.
- Então vai brincar de construir felicidade, vai.
Não precisou falar duas vezes.

Saiu correndo brincar.
E a avó continuou trançando, em seu tricô, a delicada trama da vida.

Boa Tarde!!!

Autor: Marco Antonio Spinelli, 37 anos, é médico psiquiatra
e analista de orientação junguiana.

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