Novas formas de detectar a doença mais cedo e tratá-la com eficácia aumentam a compreensão da medicina e podem melhorar a vida dos pacientes
por FLÁVIA YURI OSHIMA
17/12/2013 - Quem sintonizou o canal de TV pago Comedy Central deparou com os trailers da nova série que estreou neste mês, O show de Michael J. Fox. Não é uma homenagem ao ídolo adolescente dos anos 1980. O próprio ator canadense é o protagonista. Nela, Fox é um jornalista de TV, casado, pai de três filhos, que tenta se equilibrar entre vida familiar, vida profissional e sobre suas próprias pernas, ao mesmo tempo que batalha para controlar os irrequietos braços. Na série, o personagem sofre de mal de Parkinson há cinco anos. Na vida real, Fox enfrenta a doença há 22. Descobriu com apenas 30 anos. Assim como na ficção, ele trabalha, tem família e todos os tremores que caracterizam a doença.
Aqui no Brasil, no Rio de Janeiro, outro ator se prepara para viver um doente de Parkinson na próxima novela de Manoel Carlos, na TV Globo. Paulo José, assim como Michael J. Fox, entende do assunto. Talvez nunca tenha vivido antes um personagem tão semelhante a si mesmo. Paulo José enfrenta o Parkinson há 20 anos. Tem 76. Desde que soube do diagnóstico, casou-se novamente (pela quarta vez) e nunca parou de trabalhar, como conta em depoimento a ÉPOCA. Às vezes, diz ele, é difícil. Às vezes é muito difícil. Mas Paulo, assim como Fox, é um exemplo de como manter a doença sob controle e seguir a vida.
É sintomático que finalmente o Parkinson, uma doença diagnosticada pela primeira vez em 1817, torne-se um elemento – primordial – do roteiro de novelas e seriados. Estima-se que sofram com a doença, hoje, cerca de 10 milhões de pessoas em todo o mundo. Segundo projeções do Banco Mundial, em 20 anos, o número de doentes em países como Japão, Alemanha, Itália e Reino Unido será 50% maior. Em países de população mais jovem, como o Brasil, o número de vítimas deve dobrar: dos atuais 200 mil para 400 mil.
A doença de Parkinson ocorre quando uma área do cérebro conhecida como substância nigra morre ou se torna deficiente. Isso compromete a produção de um composto que ajuda a conduzir os sinais elétricos que controlam os movimentos do corpo, conhecido como dopamina. Os principais sintomas da doença são tremores nos braços, pernas, cabeça e mãos, além de movimentos involuntários, enrijecimento do corpo, perda de expressão e lentidão. Em 40% dos casos, segue-se a demência. A primeira informação que se recebe com o diagnóstico é que Parkinson não tem cura. Mas não é uma sentença de morte. Como diz o ator Paulo José, morre-se com Parkinson, não de Parkinson.
Com o aumento da expectativa de vida, o Parkinson se tornou mais comum. Por isso, surpreende que a medicina conheça tão pouco sobre a doença. A última droga que revolucionou o tratamento – a levodopa, que estimula o cérebro a produzir dopamina – completará 50 anos no ano que vem. Ainda é o principal remédio para o controle do Parkinson. Não apenas a ciência não consegue produzir drogas mais eficazes, mas os médicos continuam a se surpreender com as causas da doença.
Um exemplo: a cidade de Bambuí, em Minas Gerais, tinha uma incidência de Parkinson de 7,2% entre a população com mais de 64 anos, o triplo do índice normal. Um estudo de 2006 revelou que quase metade dos casos se devia ao uso descontrolado de remédios contra psicose e vertigem. O controle de vendas de remédios fez a taxa cair. Outro caso: em Taiwan, muitas mulheres desenvolveram a doença depois de ter contraído o vírus da herpes. O vírus contribuiu com a inflamação da substância nigra. Hoje, sabe-se que fatores genéticos respondem por 15% dos casos. Os outros vêm de causas variadas, muitas desconhecidas. Sabe-se também que a exposição a toxinas (como pesticidas) aumenta o risco de contrair a doença. Apenas entre 5% e 10% dos diagnósticos são feitos em pessoas com menos de 50 anos. Entre homens, a incidência geral é 50% maior.
Não há ainda tratamentos preventivos. Os estudos já constataram que fazer exercícios físicos e tomar duas xícaras de café por dia diminui o risco. Várias pesquisas mostram também que o número de ocorrências em fumantes inveterados é menor do que na população em geral (mas nenhum médico indica o fumo, por causa de todos os outros males que ele causa).
A falta de alternativas terapêuticas pode mudar em breve. Uma das grandes esperanças para tratar oParkinson é a primeira vacina em testes com humanos. Com o nome técnico de PD01A, é a primeira tentativa de atuar na causa da doença. Desde junho de 2012, 32 doentes testam a medicação em Viena. Estudos recentes mostraram que o excesso de uma proteína conhecida como alfa-sinucleína está por trás de casos de Parkinson. O objetivo da vacina é incentivar o organismo a criar defesas contra essa proteína. A Fundação Michael J. Fox doou US$ 1,5 milhão para o desenvolvimento da vacina, feito pela empresa austríaca Affiris. Os primeiros resultados dos testes devem sair no início de 2014.
Ainda é cedo para comemorar. “Anular o efeito de uma proteína no cérebro pode ter mais consequências além da interrupção do Parkinson”, diz Michael Okun, neurologista da Universidade da Flórida. Há alguns anos, uma vacina feita para eliminar uma proteína conhecida como tau, para combater o mal de Alzheimer, levou os pacientes a desenvolver meningite. “Independentemente dos resultados, o fato de termos chegado finalmente à fase de testes é promissor. Sabemos mais sobre a doença hoje que há um ano e meio”, diz Okun.
Enquanto uma vacina não chega, avança o conhecimento sobre como lidar com o Parkinson para minimizar seus efeitos. Há pouco mais de duas décadas, a vida de quem recebia o diagnóstico era muito diferente. Tratava-se de uma sentença de envelhecimento precoce, isolamento e prostração. Hoje, sabe-se que a primeira arma na guerra contra o Parkinson é a disposição mental. Se não existe tratamento eficaz, há terapias reconhecidas para cada um de seus sintomas. Hoje, o paciente é estimulado a não se conformar com as alterações de seu corpo. (segue...) Leia na fonte: Época Globo G1, com fotos e links.
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