De acordo com o Ministério Público, empresas fornecedoras pagavam propina aos médicos que compravam materiais importados para usar em cirurgias neurológicas, que muitas vezes nem chegavam a ser realizadas.
Na semana em que entrou em vigor o novo código de ética médica, um desvio de verbas públicas envolvendo médicos e empresas fornecedoras de material hospitalar provocou surpresa e revolta, no Rio.
Os médicos requisitavam equipamentos para cirurgias que nunca foram feitas. Os contratos investigados pela polícia somam R$ 120 milhões.
Foram seis meses de investigação, que começou pela empresa Extencion, fornecedora de materiais hospitalares, e chegou a neurocirurgiões.
A denúncia revelou um esquema criminoso realizado em hospitais públicos do Rio. De acordo com o Ministério Público, empresas fornecedoras pagavam propina aos médicos que compravam materiais importados para usar em cirurgias neurológicas, que muitas vezes nem chegavam a ser realizadas.
Segundo a polícia, o esquema era encabeçado por três pessoas ligadas à Extencion: o dono Jorge Figueiredo Novaes; a gerente, Fernanda Simões da Silva; e o vendedor Antônio Henrique de Bria; além do chefe da neurologia do Hospital Municipal Salgado Filho, o médico Carlos Henrique Ribeiro.
A fraude acontecia em cirurgias de aneurisma, que é uma dilatação de artérias do cérebro. Os médicos tratam a doença com uma espiral de platina, uma pequena mola, colocada dentro da área dilatada.
As investigações mostraram que os médicos recebiam entre 15% e 25% de propina para comprar molas de um único fornecedor.
“Numa operação dessa, o normal é que se use de seis a oito equipamentos daquele específico do aneurisma. Toda a operação deles era com 12 equipamentos, que é o máximo permitido”, contou Alan Turnowski, chefe da Polícia Civil - RJ.
A polícia monitorou as conversas da quadrilha, com autorização da Justiça:
Bria, vendedor da empresa: “Você sabe muito bem que são usadas coisas acima do que é permitido. Então, nós vamos ter que ter para comprovar quando não se usa”.
Fernanda, gerente da empresa: “O que a gente vai ter que fazer é o seguinte: por exemplo, fez uma embolização hoje. Usou, verídico, usou seis. Aí você vai falar: ‘Fernanda, cobra oito’. Eu vou ligar e vou falar: ‘Tira oito etiquetas e cola na folha de sala’”.
O prontuário revela que a quadrilha forjava operações. O aneurisma de uma paciente, de nome Luíza, fechou de forma espontânea. Mas o médico Carlos Henrique Ribeiro pediu 12 espirais no nome dela, num total de quase R$ 27 mil. Segundo a polícia, esse valor já incluía propina.
O advogado do dono da empresa fornecedora de materiais informou que seu cliente trabalha de forma regular. Os outros dois funcionários não se pronunciaram sobre as denúncias.
O advogado do médico Carlos Henrique Ribeiro negou a participação dele nas fraudes. A prefeitura do Rio afastará os médicos suspeitos até o fim das investigações.
Fonte : Jornal Nacional
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