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quarta-feira, 9 de março de 2011

ENTUSIASMO E O DESEJO DE VIVER CADA VEZ MAIS INTENSAMENTE

Tenho recebido alguns e-mails de pessoas que se dizem já sem esperanças de melhoras de suas condições causadas pela DP, de alguns cuidadores que se dizem cansados de lutar com as dificuldades da DP. Escrevo hoje especialmente para eles, mas também a todos os que se sentem “envelhecidos” pelo desânimo, com um apelo para que não se deixem vencer pela falta de disposição.

Coragem para sonhar, determinção de lutar por nossos objetivos, desejo de viver: são sentimentos que não deveríamos perder com a chegada da velhice. Não gosto do termo “velhice”, quando aplicado a pessoa, mas talvez aqui o termo se justifique, no sentido de “idade avançada”.

Encontro no dicionário como definição de velho:
1. Obsoleto: gasto, caído em desuso.
2. Antiquado: Que está fora de uso por antigo.
3. Antigo: Que foi, mas já não é.

Contudo a expressão “velho de guerra” significa “homem experimentado, valente, perito em alguma arte ou ofício”, como sinônimo de “experiência, conhecimento”, “homem conhecedor das coisas da vida”.

Olho para meus pais com idade de 79 anos. Pergunto: - Estão gastos? Estão fora de uso? Serão velhos minha mãe e meu pai que acordam cedo e se põem a caminhar às sete horas da manhã, quando poderiam estar na cama, preguiçosamente até as nove ou dez horas? -Afinal já não tem o compromisso com filhos para levar à escola pela manhã, ou obrigações profissionais com hora marcada.

Minha mãe, prepara logo cedo o café da manhã caprichado, com frutas, cereais, leite, queijo, preocupa-se com sua saúde e a de meu pai. Em dias alternados faz aulas de hidroginástica, natação e por iniciativa própria se põe a caminhar duas ou três vezes por semana. Ela cuida das tarefas domésticas, como limpeza da casa, roupas, cozinha, (aliás faz da cozinha seu reinado, com seus bolos fofinhos, arroz soltinho, feijoada singular e bife à milanesa invejável). Minha mãe tem artrite/artrose, e as vezes, em tempos de crises as dores a incomodam. Mas, com ou sem dor, dia a dia, lá está ela com sua força e vontade de viver.

Meu pai, passou a cuidar mais da saúde pela insistência de minha mãe numa alimentação mais saudável. Creio, que por vontade dele, se fartaria diariamente com feijoada, rabada, e muito doce. Mas ele se rendeu aos apelos de minha mãe por uma melhor qualidade de vida. Ele também faz caminhadas e natação, além das aulas de violão, gaita e agora terá ainda aulas de teclado. Está sempre disposto a ensinar o que sabe e sempre interessado em aprender algo mais sobre uso do computador, sobre internet. É ele quem cuida das compras de supermercado, feira e contas da casa. É para ele que eu peço socorro quando tenho na casa algum problema elétrico, ou hidráulico. Não importa a hora do dia ou da noite, lá está meu pai, meu velho pai, homem experiente, para nos socorrer.

Meus pais são pessoas de sorte, agraciados pela vida por seus esforços, com boas condições de moradia e saúde estável.

Infelizmente essas condições não são regras para todos. Penso nos idosos que não podem ter garantida sua independência financeira, tão pouco física, e que necessitam de atenção e cuidados especiais. Muitas vezes, em função da falta de espaço para acomodá-los, ou pelas condições profissionais, onde todos saem para trabalhar, e sem ter como cuidá-los, eles são colocados numa clínica ou abrigo para idosos. Sendo cuidados em casa, ou num abrigo é preciso lembrar que, doentes, fracos e debilitados, os idosos não deixam de ter sentimentos, e merecem carinho e respeito. Talvez por essa fragilidade necessitem ainda mais de atenção e amor.

Há famílias que cuidam da higiene, vestem e alimentam seus idosos doentes, mas esquecem de olhar nos olhos deles, esquecem de segurar em suas mãos e falar com eles, pentear com delicadeza seus cabelos, num gesto de carinho. Há os que pagam por essas tarefas, e por pagarem sentem-se isentos de outros cuidados. Mesmo sendo alimentados, banhados e vestidos, esses idosos necessitam de carinho, da proximidade de seus familiares, necessitam também de amor.

Todos temos nossos compromissos diários, seja com filhos, família, casa, trabalho, mas com uma programação de tarefas, comprometimento e revezamento de toda família é possivel dar atenção, cuidado e carinho para estas pessoas mais fragilizadas.

Não se pode tirar de uma pessoa o direito de sonhar, o direito à vida pelo fato dela ter sido acometida por uma enfermidade.

Antes de encerrar este texto hoje, vou falar sobre uma tia, irmã mais velha de meu pai. Ela tem 89 anos e teve um AVC há alguns anos. Ela é solteira, sem filhos, e depois do falecimento de meus avós, sua família sempre foi os irmãos e sobrinhos. Ela era independente, tinha seus próprios horários, sua vida com suas próprias regras. De repente viu-se numa cadeira de rodas, com o lado esquerdo do corpo imóvel, dependente de outras pessoas. Não foi possível mantê-la em casa. A melhor opção foi colocá-la numa clínica onde recebe cuidados necessários ao seu estado físico. Desde o início ela é visitada em dias e horários permitidos. Minha mãe sempre prepara para ela alguma comida que ela gosta. As vezes a trazemos para almoçar em casa. Nos primeiros anos ela conversava, ria, contava histórias do passado. Nos últimos meses ela deixou de falar, ouve pouco, passa quase todo o tempo cochilando, mesmo que ela não responda, conversamos com ela. Num domingo desses, minha irmã e seu marido a levaram passear num parque para tomar sol. Quando eles encostaram a cadeira de rodas e se sentaram num banco ao lado dela, notaram que era chorava, emocionada. Ela já quase não fala, mas algo dentro dela está nos dizendo que ela se reconhece amada.

Às vezes uma pessoa, por estar debilitada não consegue se expressar, o que não significa que seja incapaz de sentir, de desejar ou ter esperanças.

Velho é aquele vaso rachado que perdeu a utilidade, o sapato furado já gasto pelo uso, a tv sem imagem que já não tem conserto.

Velhos? Não meu pai, nem mãe, ou minha tia. Velhos? Não os idosos saudáveis, nem os enfermos.

Ao olhar minha mãe vejo superação, mesmo quando está sentindo dores, ela está lá, de pé, disposta a fazer o que ela acha que é seu dever: cuidar da casa, da comida e do marido e o faz com amor.

Ao olhar meu pai entendo renovação. Aos 79 anos ele, que tem tanto a ensinar, se propõe a aprender, conhecer e experimentar outras cores, com viva satisfação.

Ao olhar minha tia encontro vida. Mesmo numa cadeira de rodas, quase imóvel, ela se emociona com a beleza e a tranquilidade de um passeio no parque. Incontestável emoção.

Ao olhar os idosos aprendo mais sobre o que é ter esperança. Observando idosos determinados em mudar antigos hábitos de comportamento e alimentação em sua busca por uma melhor qualidade de vida, ou quando vejo casais idosos de mãos dadas, sinto que eles sentem o que os jovens sentem: entusiasmo e desejo de viver. A esperança se torna mais evidente!

Eu tenho esperança que os mais jovens, hoje, saibam olhar sem desprezo, com respeito e carinho para os menos jovens, que já alcalçaram uma idade mais avançada.

E eu tenho esperança ainda que a juventude que há hoje em nós não se transforme num espírito envelhecido amanhã, e que o desejo de viver brilhe em nós até o momento em que nos tormaremos mais uma estrela a brilhar no céu.

Aqui deixo um forte abraço, e o desejo de que os espíritos envelhecidos rejuveneçam, e voltem a brilhar e a caminhar ao nosso lado, com entusiasmo e desejo de viver cada vez mais intensamente.

Simplesmente Tetê.

Um comentário:

Unknown disse...

Parabéns Tetê, lindo depoimento.
Coisas que valem a pena comentar para que venhamos entender as necessidades do bem viver e acreditar que tudo pode se transformar