As
telas estão lá, algumas em cima das mesas, outras já penduradas na
parede ao fundo, estrategicamente na direção da porta de entrada da
Oficina de Artes da Associação Brasil Parkinson – ABP. Mãos e olhos
atentos em movimentos certeiros ou nem tanto, mas extremamente
concentrados, produzem imagens que agradam a todos. Uma regente anima
todos os movimentos e dá vida ao ambiente no qual os artistas estão
inseridos, Lucy Araújo.
Em
conversa rápida, Lucy em horário de trabalho voluntário, nos conta que
a Oficina de Artes começou a funcionar, timidamente, em 3 de outubro
de 1995. O grupo era pequeno, cinco pessoas, incluindo D. Adelaide [sua
mãe] e D. Marylandes, que é a grande incentivadora do projeto. Hoje, a
Oficina conta com 60 inscritos, com uma média de 40 que participam
ativamente a cada semana.
Quando
sua mãe faleceu, o presidente da ABP, Dr. Samuel Grossmann, muito
sabiamente, batizou o trabalho de “Oficina de Artes Adelaide Araújo”,
reconhecendo o grande mérito do trabalho da Lucy e, prendendo-a ainda
mais ao mesmo, pelo que ela lhe é muito grata. Desde então, Lucy está
mais fortalecida, pesquisa mais e busca conhecer outras técnicas de
pintura. “Eu busco retribuir, de coração, para o aumento da auto-estima
dos meus aplicados alunos, que sentem uma melhora visível, pois
naquele trabalho pioneiro da Associação, que é a atividade motora, o
tremor característico da doença diminui”.
Na
ABP a agitação é total. Todo fim de ano acontece uma vernissage com os
quadros produzidos pelos doentes que estão no local – porque durante o
ano muitos são comercializados. Os quadros dos parkinsonianos vão
parar em eventos [como decoração], em folhinhas de calendários e já
estão registrados em dois livros que o laboratório Roche lançou. “Os
parentes sempre vêm nas vernissages, e nas muitas festas que temos:
Festa da Primavera, de São João, do começo e do fim de ano”. Segundo
Lucy, tudo isso é muito benéfico, porque os alunos têm uma motivação a
mais para sair de casa e se dedicar e, geralmente, sentem muito orgulho
de fazer parte.
Pintores Parkinsonianos
Na nossa visita à Associação entrevistamos alguns alunos da Lucy Araújo, que ficaram muito felizes em participar da nossa matéria. A seguir alguns depoimentos
Na nossa visita à Associação entrevistamos alguns alunos da Lucy Araújo, que ficaram muito felizes em participar da nossa matéria. A seguir alguns depoimentos
“Aqui
na ABP, onde estou já 2 anos, adquiri força e mais estabilidade,
porque emocionalmente eu estava muito deprimida. É um ambiente muito
gostoso, as pessoas dão o melhor delas para a gente. Quando eu pinto
sinto uma sensação de liberdade e meu tremor diminui muito. Em casa
todos ficam bobos de ver como eu consigo relaxar nas piores horas de
tremor, pintando. Sempre gostei de pintar, mas pagar era difícil e,
agora, aqui é tudo de graça. A Lucy vai orientando um por um”.
Lurdes Fabiane Torrecillas, 65 anos, tem Parkinson há 7 anos
Lurdes Fabiane Torrecillas, 65 anos, tem Parkinson há 7 anos
“Já
são 3 anos que eu freqüento aqui. Quando eu entrei eu não sabia
pintar, agora eu já estou definindo alguns quadros. É um trabalho
gostoso de fazer. Outro dia pintei a frente da minha casa, porque tem
umas árvores muito bonitas lá. A convivência aqui é uma maravilha. Todo
mundo é amigo e se quer bem. Em casa eu não faço nada disso porque não
dá. Tenho dois netos que querem pintar também. Venho na segunda no
ensaio de teatro, na terça na fisioterapia e pintura e na quinta
pintura e coral. O coral é lindo e quem assiste gosta. De vez em quando
vamos apresentar fora. A gente ensaia e depois eles convidam a gente
para ir cantar. A minha semana é bastante cheia e é gostoso”.
Marpha Delacow, 79 anos
Marpha Delacow, 79 anos
“A
melhor coisa que eu fiz na minha vida foi vir aqui. Eu não sabia nada,
nada, nada... Há 2 anos, quis mudar a minha vida, que não estava boa.
Agora venho com o maior prazer, quando alguém pode me trazer, porque eu
dependo das minhas filhas. A convivência aqui é muito boa e não tenho
nada que me atrapalhe. Eu me sinto em casa. As professoras voluntárias
são muito boas, carinhosas e ajudam a gente. Em casa eu também pinto,
mas pra mim e para meus netos, que ficam contentes e me dão muita força.
Aqui é diferente, eu fico tão concentrada... que nem converso
[risos]”.
Ida Cury, 87 anos
Ida Cury, 87 anos
“Há
10 anos eu comecei aqui. Foi uma causalidade, eu estava com sintomas
[tremor] e ninguém sabia dar uma definição. Eu acho que é sistema
nervoso, mas... Eu sou o único que fez a operação aqui e, por isso, eu
não tremo muito. É uma operação muito traumática, porque é tudo com
anestesia local. É... tudo amarrado. A equipe médica até me agradeceu
pela cooperação... Eu tive de assinar uma autorização tirando todas as
responsabilidades deles, mas graças a Deus eu fui agraciado, porque o
médico dava como 70% de chance e eu passei dos 70%. Sobre a pintura, a
satisfação é de fazer, é de quando a arte se realiza. O que não podemos
é ficar parados. Não adianta fazer tratamento se não se movimentar. Eu
vejo por mim... Eu falo para o pessoal ‘vocês têm que fazer ginástica,
andar...’. Eu saio de manhã e faço a caminhada de 1 ou 2 km, a tarde
venho pra cá. Se fica em casa, fica na frente da televisão... aqui nem a
pessoa querendo tremer não treme [risos]...”
Walter Nyakas, 70 anos, tem Parkinson há 9 anos
Walter Nyakas, 70 anos, tem Parkinson há 9 anos
“Estou
há 6 ou 7 anos aqui. Antes de eu ter essa doença eu já desenhava
alguma coisa à lápis, como hobby. Eu gosto de fachadas e já ganhei um
prêmio por uma que eu fiz. Mas, já pintei retratos à lápis e quadros
com tintas à nanquim também. Aqui, se ajuda a associação, eu fico
contente, porque assim há uma troca. É difícil de explicar o que
acontece conosco, porque se a pessoa treme com a mão, vai ter uma
grande dificuldade com a pintura e, no entanto, no meu caso, que o
tremor vem a cada período de 3 a 4 horas, eu tenho de tomar remédio 4
vezes ao dia e tenho de dividir esses horários para que eu possa ter um
lazer tranqüilo. Moro longe, em Guarulhos e só venho uma vez por
semana aqui. Ultimamente, ter labirintite também não está ajudando.
Cair é que é o problema... Eu sei que o que eu não posso é ficar
parado. Então, ver televisão? Só à noite”.
Laré Negreiros, 72 anos
Laré Negreiros, 72 anos
“Pintei
por 2 anos no SESI, depois vim para cá. Eu relaxo bastante e tenho
prazer em pintar. Fico vaidosa quando vejo meus quadros, embora ache
até que é demais quando as pessoas elogiam. Alguns ficam como coisas
passageiras outros eu não largo. O primeiro que eu fiz, antes de 1989,
está lá no SESI... Eu gosto de paisagem, acho bonito o mar, as flores, a
paisagem... [risos] Em casa, antigamente, eu ficava pintando até tarde
da noite. Quando eu comecei, estava muito doente e achava que a
pintura estava me melhorando... pintava desesperadamente. Nem via a hora
passar. Agora eu pinto mais devagar, mas ainda tenho mania de fazer
rápido, para começar outro [risos]... Sempre fui bem ativa até que
fiquei doente, fiquei sem saber o que fazer e percebi que ficar parada
não é saudável. Só o fato de sair já alivia e areja. Na Associação o
ambiente é muito bom. A gente sente a amizade das pessoas...”
Conceição Barbosa Esteves, 81 anos, 6 anos na ABP
Conceição Barbosa Esteves, 81 anos, 6 anos na ABP
Trabalho Voluntário
Para Lucy Araújo, o trabalho voluntário é muito indicado para a maturidade. “Faz a gente se sentir necessário e útil”, explica. Lucy trabalhou muitos anos em banco, na área de treinamento de pessoal e quando aposentou, sentiu um baque grande, porque ela tinha uma vida ativa, cheia de coisas para decidir... “Quando a gente atende o telefone a gente diz o nome da empresa que trabalha. | |
É
uma instituição que está dando um suporte grande e você se sente
importante”. Mas, segundo ela, quando chega a aposentadoria é a
identidade que tem de valer e isso no começo causa um choque. |
Equipe de voluntários da Oficina de Artes Adelaide Araújo, com Dr Samuel e D. Marylandes
|
“Nos primeiros dias eu fiquei meio perdida, não sabia... acordar e sair da cama pra quê?...”
Foi nessa época que valeu o seu trabalho artístico. “Eu estava fazendo atelier e comecei a pintar com a mamãe em casa e surgiu o trabalho voluntário. Acho que Deus preparou, porque eu não escolhi ser voluntária, convidaram-me e eu topei”. Hoje, Lucy está precisando largar alguma coisa, de tantas atividades que tem.
Foi nessa época que valeu o seu trabalho artístico. “Eu estava fazendo atelier e comecei a pintar com a mamãe em casa e surgiu o trabalho voluntário. Acho que Deus preparou, porque eu não escolhi ser voluntária, convidaram-me e eu topei”. Hoje, Lucy está precisando largar alguma coisa, de tantas atividades que tem.
Associação Brasil Parkinson - ABP
A Oficina de Arte é uma parte do trabalho que a Associação faz para procurar dar conforto, dignidade e qualidade de vida às pessoas afetadas pela doença de Parkinson. A ABP já com 20 anos de fundação, além da Oficina de Arte, oferece Canto Coral [já tem dois CDs gravados], Fisioterapia, Fonoaudiologia, Orientação nutricional, Terapia ocupacional e outras atividades, como as Tardes dançantes.
A Associação, fundada em dezembro de 1985, tem 600 sócios no Brasil e atende na sede, cerca de, 100 pessoas por dia. Segundo Dr. Samuel Grossmann, é preciso tirar o luto da doença e partir para a luta. “Temos de manter o ânimo e não deixar a doença progredir, porque de repente, a cura pode ser descoberta. A ciência está pesquisando e temos de ter esperança”.
A Oficina de Arte é uma parte do trabalho que a Associação faz para procurar dar conforto, dignidade e qualidade de vida às pessoas afetadas pela doença de Parkinson. A ABP já com 20 anos de fundação, além da Oficina de Arte, oferece Canto Coral [já tem dois CDs gravados], Fisioterapia, Fonoaudiologia, Orientação nutricional, Terapia ocupacional e outras atividades, como as Tardes dançantes.
A Associação, fundada em dezembro de 1985, tem 600 sócios no Brasil e atende na sede, cerca de, 100 pessoas por dia. Segundo Dr. Samuel Grossmann, é preciso tirar o luto da doença e partir para a luta. “Temos de manter o ânimo e não deixar a doença progredir, porque de repente, a cura pode ser descoberta. A ciência está pesquisando e temos de ter esperança”.
Dr
Samuel conta que até o advento da Associação a própria doença era
desconhecida. Fala, com pouco orgulho, ser a pessoa que mais vivenciou o
Parkinson. “Tive uma tia com Parkinson e em1980 os primeiros sintomas
da doença apareceram na minha esposa, D. Marylandes. Hoje, a doença é
conhecida é comentada... não mais sobre as pessoas que se retiram do
convívio, mas pelas que saem para as ruas”.
Para ser associado da Associação Brasil Parkinson – ABP, faça contato:
Rua Bosque da Saúde, 1.155
São Paulo – Capital
Telefone – (11) 2578-8177
Para ser associado da Associação Brasil Parkinson – ABP, faça contato:
Rua Bosque da Saúde, 1.155
São Paulo – Capital
Telefone – (11) 2578-8177
2 comentários:
É hoje a Vernissage da 13 exposição de Arte Parkinsonianos a partir das 16 horas na nossa sede social. Coisas lindas esperam por você.
Acabei de retornar da ABP, amigos foi maravilhoso, vocês não imaginam como ficou bonito o painel com a imagem vitrificada, cada um da equipe deu sua contribuição foram diversos ladrilhos cada um com uma mensagem formando a imagem do Beija-flor, o painel ficou visível na fachada da nossa sede, quem para no sinal da esquina vai ter uma visão fantástica, acredito até que o painel vai se tornar em um ponto turístico da avenida.
Quero aqui parabenizar a equipe da Oficina de Artes Adelaide de Araujo (nome dado a oficina homenagem a mãe da Lucy uma das primeiras artífices e colaboradoras).
Além da emoção da inauguração fomos premiados com as obras dos 39 pintores PK, tudo com um precinho camarada, até dia 17 a exposição estará aberta com as telas a venda. Oportunamente irei postar as fotos da festa.
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