Visualizações de página do mês passado

quarta-feira, 12 de maio de 2010

A neurociência do século 21, por Carlos Alexandre Netto

Miguel Nicolelis, brilhante cientista brasileiro em atividade na Universidade de Duke, nos Estados Unidos, vem desenvolvendo uma das tecnologias portadoras de futuro para a humanidade: a interface cérebro-máquina.

Ele esteve em Porto Alegre para inaugurar o Fronteiras do Pensamento 2010, curso de altos estudos que situa Porto Alegre como um centro de reflexão dos grandes temas científicos e humanos que desafiam o pensar e o viver contemporâneo.

Ao apresentar experimentos complexos, fundados numa área transdisciplinar que navega entre a neurofisiologia e a robótica, com linguagem clara e acessível, Nicolelis cativou e encantou o público que lotava o Salão de Atos da UFRGS.


O ponto de partida de seu trabalho é a sofisticada tecnologia desenvolvida para registrar a atividade de centenas de neurônios (células responsáveis pela geração e transmissão dos impulsos nervosos), bem como para decodificar esses sinais em tempo real.

Os bioengenheiros desenvolveram eletrodos com a capacidade de comunicação de algumas dezenas de telefones celulares numa pequena placa, menor que a unha do dedo indicador. Uma vez implantada no córtex motor, a interface registra as “tempestades elétricas” associadas aos movimentos.


Os indivíduos experimentais são macacos, primatas que têm a organização cortical semelhante àquela dos seres humanos. A questão investigada: é possível controlar, com o uso da interface cérebro-máquina, um dispositivo mecânico – um braço ou um robô – colocado à distância e fora do campo de visão? A partir de um desenho experimental criativo, a macaca Aurora adquiriu excepcional controle de um joystick para resolver um jogo numa tela de computador, ao estilo dos videogames.

Durante o aprendizado, a interface transmitia os sinais cerebrais para um braço mecânico, que acumulou os padrões de comportamento.

Quando o joystick foi retirado, Aurora continuou jogando com o computador sem mexer seus braços, apenas olhando para a tela e controlando o braço mecânico através da imaginação dos movimentos. Já a macaca Idoia foi treinada numa esteira para desenvolver a marcha bipedal. Através de uma conexão extremamente rápida, o sinal foi transmitido para um laboratório em Kyoto, no Japão, onde um robô também aprendeu a caminhar.


São inúmeras as consequências e possibilidades de novos desenvolvimentos. O que mais impressiona é a demonstração de que a atividade cerebral pode controlar o movimento de elementos robóticos, estejam eles próximos do corpo ou à distância. Isto representa a possibilidade de vencer os limites físicos à ação motora, a esperança de devolver os movimentos voluntários para milhares de pacientes portadores de patologias neurológicas, como as resultantes de traumatismos medulares ou da doença de Parkinson.

Também foi marcante a revelação do cientista cidadão, engajado em projetos sociais. Nicolelis criou o Instituto Internacional de Neurociências de Natal – Edmond e Lily Safra, instalado em Macaíba no Rio Grande do Norte, cidade com baixíssimo índice de desenvolvimento humano.

Trata-se de um verdadeiro experimento sociológico com objetivo ambicioso: demonstrar que o uso do método científico pode motivar estudantes e professores, melhorar a educação e, desta forma, mudar o destino daquelas pes-soas, da região e do país. A fundação que administra o instituto, mantido com mais de 70% de recursos privados, leva o nome de Alberto Santos Dumont, o gênio brasileiro que surpreendeu o mundo ao realizar o primeiro voo controlado.

A mensagem é explícita: assim como ele, todos podem realizar seus voos pessoais.

Fonte: Zero Hora

Nenhum comentário: