Para diretor da agência da ONU, país tem atuado de forma exemplar no tratamento a portadores do HIV e no combate ao preconceito
Michel Sidibé, diretor executivo da Unaids,
um dos braços da ONU. (Adriano Machado / AFP)
Nomeado há exatos dois anos diretor executivo da Unaids, o programa da ONU de combate à aids, o malinês Michel Sidibé, de 58 anos, tem como principais metas acabar com novas infecções e combater a discriminação a portadores do HIV. Ainda está longe dos objetivos. Mais de cinquenta países sequer aceitam a presença de pessoas com o vírus em seus territórios.
Em outras nações, homossexuais são perseguidos por leis que impõem desde a prisão até a pena de morte. "Esse tipo de lei só impede que as pessoas sejam tratadas", diz Sidibé, que nesta semana visitou o Brasil. Apesar das dificuldades, o diretor da Unaids tem bons números a mostrar, como a queda de novas infecções e de mortes por aids no mundo inteiro, entre 2008 e 2009. Ele aponta ainda o Brasil como país que tem conseguido reduzir o preconceito por meio de campanhas de informação bem sucedidas. “O Brasil quebrou a espiral do silêncio sobre a aids”, afirma.
Na entrevista a seguir, ele fala sobre a situação do HIV no mundo, o avanço do contágio em países desenvolvidos e o papel da moral e da religião na batalha contra o vírus.
Há muito tempo já se sabe que o maior foco de aids no mundo é a África. Mesmo assim, a evolução no quadro do continente tem sido muito lenta. Por quê? Falta vontade política?
Posso dizer que pela primeira vez na história nós quebramos a trajetória do HIV, mesmo na África. Neste ano tivemos 25 dos países mais afetados manifestando um declínio de 25% ou mais em novas infecções. Mas o maior problema que ainda enfrentamos no continente é que muitos desses países estão enfrentando obstáculos econômicos e não tiveram acesso aos tratamentos. A maioria dos países africanos não produz medicamentos contra aids. Por isso, a parceria com o Brasil (que envolve a construção de uma fábrica de medicamentos antirretrovirais em Moçambique e transferência de tecnologia) é uma grande oportunidade de começar a transferir conhecimento e tecnologia e trazer inovação à África nesse quesito. Não é só uma questão de lideranças, mas de tecnologias.
Fonte : Revista Veja - Saúde
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